sábado, 9 de julho de 2011

“TRIÂNGULO AMOROSO” de Caio Fernando: Variação sobre o título

Parecia estar impaciente com aquela dúvida. Não comia bem, não dormia bem, não jogava mais bola. Estava amando. Era demais pra ele admitir isso, mas chegou ao ponto de se tornar claramente inegável, precisava admitir, então.

Pensava ainda, mesmo que admitisse não se resolveria o problema. Eram dois os seus amores. Mas tinha aprendido que não se podia amar mais que um e precisava acabar com um dos amores de qualquer maneira, ou o destino era ficar sem amar. E isso, ele não suportaria. Mas sabia que também não suportaria amar uma só.

Que dor dúbia, a daquele menino. Ele sabia que poderia parar de se amar pra sobrar um pouco de amor, e assim, amar mais de uma. E o mundo poderia acabar, podia acabar enquanto ele amava incansavelmente aquelas duas. Mas isso não ia acontecer, e nem em seus sonhos mais bonitos ele chegou a ter tamanha esperança.
Obviamente, tinha que escolher.

Ele sentia que tinha uma, que quando lembrava, o ar faltava por 5 segundos a mais que a outra, mas isso não queria dizer que a amava mais. E mesmo que fosse isso, amar mais a uma, em nenhum momento, significa desmerecer o amor que tinha pela outra.
Mas precisava partir, e partir significava espaço só pra uma, espaço só pra uma significava excluir a outra, que significava chorar um pouco, que significava comoção aos outros, que significava promessas de um carro maior pra próxima estação, que poderia significar carregar dois amores, se assim acontecer de novo na próxima mudança.

O menino pensou que se o carro ainda fosse o Kadett 93 prata de porta malas enorme, suas duas ursinhas poderiam ir com ele, mas não era. E o não ser, era real. Ele escolheu a menor, aquela que fazia sua respiração parar por 5 segundos a mais que quando pensava em deixar a outra, e aquela que, para ele, ainda precisava crescer. Precisava dele pra poder crescer. Deixou a ursinha maior dentro de uma caixa na porta de sua ex casa. A mãe o tinha convencido de que alguém a acharia e cuidaria tão bem dela que o faria não se lembrar mais dele. Isso doeu no menino, ideia inconcebível, mas ele abraçava a ursinha menor e a tristeza parecia diminuir. Olhou uma última vez para aquela caixa de papelão que, temporariamente, acreditava ele, seria a casa de sua ursinha maior. Desceu a última lágrima, que o pelo macio da sua ursinha menor secou, e com isso fez doer por menos tempo.

Tadinho daquele menino que já sofria por amar demais. Já sofria por não poder amar o quanto quisesse e o quanto pudesse.

Há de se supor também que aquela ursinha maior teria um coração. Mas ninguém pensou nisso, porque ela era grande. E ser grande quer dizer, no mínimo, suportar o que não se conseguiria se fosse pequeno. Que mentira descarada. Mas é tarde pra pensar nisso, o menino partiu. A ursinha grande, mesmo que tivesse um coração, e que sofresse, e que chorasse, e que não entendesse porque foi abandonada, saberia viver de novo. Porque era grande, e isso parecia bastar pra todo mundo. Menos pra ela que não sabia como poderia usar o seu tamanho pra acalmar seu coração.

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