Desde que voltei do EIVI tenho pensado muito na psicologia, especialmente porque senti muita falta dela no estágio. Os contextos e situações como um todo são muito diferenciadas das comumente vistas por profissionais que trabalham com a classe média ou dentro de instituições assistidas pelo Estado numa sociedade capitalista.
O que mais tem me intrigado é que se percebe que a psicologia poderia estar atuando nos mais diversificados contextos que, de alguma maneira, poderiam usufruir do apoio psicológico, mas o que acontece, ou melhor, o que eu vejo acontecer é que a psicologia como está hoje, mesmo tendo mudado, se transformado, se refeito nesses poucos mais de cem anos de existência ainda é muito elitista. E como se apresenta e vem sendo construída dentro das universidades ainda não é capaz de abarcar como público alvo as pessoas pobres, desassistidas pelo próprio Estado, por suas instituições, seus profissionais, suas políticas assistencialistas.
O que se apresenta claro pra mim é que é urgente a necessidade de transformação, porque não se deve negar assistência psicológica a nenhum ser humano por falta de interesse do profissional e/ou da profissão, que devem se moldar diante das dificuldades e novidades que se apresentam, a fim de tornarem-se aptos a desenvolver uma psicologia para todos, sem distinção de classe e poder econômico, principalmente.
Como eu já devo ter exposto, o que eu acho é que se precisa construir novas formas de se fazer psicologia e novas teorias que possam auxiliar essa prática, mas de nenhuma maneira isso deve ser construído por profissionais que não tenham contato com as pessoas para quem essa psicologia vai servir, senão será uma construção equivocada da realidade. Mais que isso, acredito que não são os profissionais que construirão essa nova psicologia, mas que ela será construída juntamente com o povo que se utilizará das novas construções.
E como fazer isso longe do povo? Como fazer isso longe dos contextos mais necessitados? Como fazer isso dentro da Universidade com os professores e coleguinhas? Como fazer isso sem vivenciar o dia a dia do povo? Como fazer isso sem se sentir parte desse povo?
Não vejo alternativa que não seja mergulhar nesses contextos, viver e fazer deles sua rotina. Vivências que construirão a psicologia popular, criada com o povo, a fim de servir a esse mesmo povo que a construiu.
domingo, 10 de julho de 2011
sábado, 9 de julho de 2011
“TRIÂNGULO AMOROSO” de Caio Fernando: Variação sobre o título
Parecia estar impaciente com aquela dúvida. Não comia bem, não dormia bem, não jogava mais bola. Estava amando. Era demais pra ele admitir isso, mas chegou ao ponto de se tornar claramente inegável, precisava admitir, então.
Pensava ainda, mesmo que admitisse não se resolveria o problema. Eram dois os seus amores. Mas tinha aprendido que não se podia amar mais que um e precisava acabar com um dos amores de qualquer maneira, ou o destino era ficar sem amar. E isso, ele não suportaria. Mas sabia que também não suportaria amar uma só.
Que dor dúbia, a daquele menino. Ele sabia que poderia parar de se amar pra sobrar um pouco de amor, e assim, amar mais de uma. E o mundo poderia acabar, podia acabar enquanto ele amava incansavelmente aquelas duas. Mas isso não ia acontecer, e nem em seus sonhos mais bonitos ele chegou a ter tamanha esperança.
Obviamente, tinha que escolher.
Ele sentia que tinha uma, que quando lembrava, o ar faltava por 5 segundos a mais que a outra, mas isso não queria dizer que a amava mais. E mesmo que fosse isso, amar mais a uma, em nenhum momento, significa desmerecer o amor que tinha pela outra.
Mas precisava partir, e partir significava espaço só pra uma, espaço só pra uma significava excluir a outra, que significava chorar um pouco, que significava comoção aos outros, que significava promessas de um carro maior pra próxima estação, que poderia significar carregar dois amores, se assim acontecer de novo na próxima mudança.
O menino pensou que se o carro ainda fosse o Kadett 93 prata de porta malas enorme, suas duas ursinhas poderiam ir com ele, mas não era. E o não ser, era real. Ele escolheu a menor, aquela que fazia sua respiração parar por 5 segundos a mais que quando pensava em deixar a outra, e aquela que, para ele, ainda precisava crescer. Precisava dele pra poder crescer. Deixou a ursinha maior dentro de uma caixa na porta de sua ex casa. A mãe o tinha convencido de que alguém a acharia e cuidaria tão bem dela que o faria não se lembrar mais dele. Isso doeu no menino, ideia inconcebível, mas ele abraçava a ursinha menor e a tristeza parecia diminuir. Olhou uma última vez para aquela caixa de papelão que, temporariamente, acreditava ele, seria a casa de sua ursinha maior. Desceu a última lágrima, que o pelo macio da sua ursinha menor secou, e com isso fez doer por menos tempo.
Tadinho daquele menino que já sofria por amar demais. Já sofria por não poder amar o quanto quisesse e o quanto pudesse.
Há de se supor também que aquela ursinha maior teria um coração. Mas ninguém pensou nisso, porque ela era grande. E ser grande quer dizer, no mínimo, suportar o que não se conseguiria se fosse pequeno. Que mentira descarada. Mas é tarde pra pensar nisso, o menino partiu. A ursinha grande, mesmo que tivesse um coração, e que sofresse, e que chorasse, e que não entendesse porque foi abandonada, saberia viver de novo. Porque era grande, e isso parecia bastar pra todo mundo. Menos pra ela que não sabia como poderia usar o seu tamanho pra acalmar seu coração.
Pensava ainda, mesmo que admitisse não se resolveria o problema. Eram dois os seus amores. Mas tinha aprendido que não se podia amar mais que um e precisava acabar com um dos amores de qualquer maneira, ou o destino era ficar sem amar. E isso, ele não suportaria. Mas sabia que também não suportaria amar uma só.
Que dor dúbia, a daquele menino. Ele sabia que poderia parar de se amar pra sobrar um pouco de amor, e assim, amar mais de uma. E o mundo poderia acabar, podia acabar enquanto ele amava incansavelmente aquelas duas. Mas isso não ia acontecer, e nem em seus sonhos mais bonitos ele chegou a ter tamanha esperança.
Obviamente, tinha que escolher.
Ele sentia que tinha uma, que quando lembrava, o ar faltava por 5 segundos a mais que a outra, mas isso não queria dizer que a amava mais. E mesmo que fosse isso, amar mais a uma, em nenhum momento, significa desmerecer o amor que tinha pela outra.
Mas precisava partir, e partir significava espaço só pra uma, espaço só pra uma significava excluir a outra, que significava chorar um pouco, que significava comoção aos outros, que significava promessas de um carro maior pra próxima estação, que poderia significar carregar dois amores, se assim acontecer de novo na próxima mudança.
O menino pensou que se o carro ainda fosse o Kadett 93 prata de porta malas enorme, suas duas ursinhas poderiam ir com ele, mas não era. E o não ser, era real. Ele escolheu a menor, aquela que fazia sua respiração parar por 5 segundos a mais que quando pensava em deixar a outra, e aquela que, para ele, ainda precisava crescer. Precisava dele pra poder crescer. Deixou a ursinha maior dentro de uma caixa na porta de sua ex casa. A mãe o tinha convencido de que alguém a acharia e cuidaria tão bem dela que o faria não se lembrar mais dele. Isso doeu no menino, ideia inconcebível, mas ele abraçava a ursinha menor e a tristeza parecia diminuir. Olhou uma última vez para aquela caixa de papelão que, temporariamente, acreditava ele, seria a casa de sua ursinha maior. Desceu a última lágrima, que o pelo macio da sua ursinha menor secou, e com isso fez doer por menos tempo.
Tadinho daquele menino que já sofria por amar demais. Já sofria por não poder amar o quanto quisesse e o quanto pudesse.
Há de se supor também que aquela ursinha maior teria um coração. Mas ninguém pensou nisso, porque ela era grande. E ser grande quer dizer, no mínimo, suportar o que não se conseguiria se fosse pequeno. Que mentira descarada. Mas é tarde pra pensar nisso, o menino partiu. A ursinha grande, mesmo que tivesse um coração, e que sofresse, e que chorasse, e que não entendesse porque foi abandonada, saberia viver de novo. Porque era grande, e isso parecia bastar pra todo mundo. Menos pra ela que não sabia como poderia usar o seu tamanho pra acalmar seu coração.
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