A última reunião presencial do VII EREP N/NE aconteceu na Ilha do Massangano – Vale do São Francisco, onde acontecerá também o encontro entre os dias 08 e 12 de outubro. Reuniram-se na Univasf de Petrolina - PE no dia 27 de julho estudantes do Vale, da Bahia, de Pernambuco, do Ceará, de Sergipe, do Rio Grande do Norte e da Paraíba para entrosamento e repasse das comissões. Devidamente acolhidos por estudantes do Vale, @s erepian@s hospedaram-se nas moradias d@s companheir@s locais.
Partimos para Ilha na quinta-feira, dia 28, e sem saber o que nos esperava depois da travessia do rio, a ansiedade tomava conta dos nossos corações. Atravessamos o rio num barquinho singelo e em pequenos grupos, com bagagens imensas e com uma vontade de chegar maior ainda.
A recepção foi calorosa, e em se tratando das crianças, o calor humano distribuído era tanto que pareciam pequenos vulcões a tomar conta de nós, das nossas almas. Chegamos próximos ao meio dia, e então, após colocar as malas na casa de Chagas, lugar que ocupamos para fazer camping, usar banheiro, fazer reuniões, bater papos, caroés, cochilos e carinhos, nos dirigimos para a escola, para nos deliciar com a maravilhosa comida de Dona Maria, Dona Rosa e Dona Peba e assim seria por toda nossa estadia; mãe, filha e amiga dividindo a cozinha para nos satisfazer e fazer sorrir com a beleza daqueles sabores.
Estávamos ali como atores de um ousado projeto de construção de um espaço de vivência humana “in-natura”, onde frente a frente com aquele povo, com aquele chão, com a aquela cultura, em um processo de entrosamentos e apropriações construiremos em conjunto o VII EREP N/NE “Pisando na terra: no compasso do samba, os saberes se encontram”.
Fizemos a primeira caminhada para reconhecimento da ilha, anunciando de casa em casa nossa proposta em estar ali, aproveitando para conversar com os moradores e conhecer um pouco de suas histórias. Dona Bertulina que o diga. Como fomos felizes naquela parada embaixo da mangueira da casa dela, sentados em roda para não variar, tomando um cafezinho e vidrados no que ela nos contava, vivenciando cada história dela como se fosse nossa também. Conhecendo a história da ilha, a partir dos atores que a constrói diariamente.
Ah, e se fôssemos contar cada detalhe com toda a satisfação que há em nós quando falamos daquele cantinho no meio do Velho Chico não pararíamos tão cedo. Passamos cinco dias na ilha, entre discussões de textos, revisitações do material da COEREP, leitura de cartas de integrantes do movimento que não puderam está presente, passeios pelos espaços da ilha, exibição de vídeos sobre o samba de veio, intervenções com as crianças, conversa com os moradores, dentre outras ações; sentimos aos poucos o sabor desse espaço, o valor do local para os moradores e o grande desafio que é a realização do evento nesse lugar. Um evento que, vale repetir, não é feito apenas da ilha, mas com a ilha, a partir de todo um saber popular “massanganessense”.
Depois de cinco dias, com o coração na mão, tivemos que deixar a ilha. A interação foi maravilhosa e nos transmitiu um ânimo e vontade de continuar apostando na nossa loucura coletiva de construir um EREP na comunidade da Ilha do Massangano. Ficamos impressionados com tamanha riqueza e valorização da vida humana e, diante disso, também surgiu e permanece viva a preocupação de preservação de toda a Ilha, espaços físicos, sociais, culturais. Segue, pra finalizar, um apelo a tod@s erepian@s que pretendem construir o EREP desse ano para que cheguem com respeito nesse solo encantado, respeito ao lugar e, principalmente, as pessoas de lá que nos ofertaram suas casas e seus espaços, dizendo também serem nossos.
Naiady Miranda e Euggama Coelho
sábado, 13 de agosto de 2011
domingo, 10 de julho de 2011
Psicologia Popular
Desde que voltei do EIVI tenho pensado muito na psicologia, especialmente porque senti muita falta dela no estágio. Os contextos e situações como um todo são muito diferenciadas das comumente vistas por profissionais que trabalham com a classe média ou dentro de instituições assistidas pelo Estado numa sociedade capitalista.
O que mais tem me intrigado é que se percebe que a psicologia poderia estar atuando nos mais diversificados contextos que, de alguma maneira, poderiam usufruir do apoio psicológico, mas o que acontece, ou melhor, o que eu vejo acontecer é que a psicologia como está hoje, mesmo tendo mudado, se transformado, se refeito nesses poucos mais de cem anos de existência ainda é muito elitista. E como se apresenta e vem sendo construída dentro das universidades ainda não é capaz de abarcar como público alvo as pessoas pobres, desassistidas pelo próprio Estado, por suas instituições, seus profissionais, suas políticas assistencialistas.
O que se apresenta claro pra mim é que é urgente a necessidade de transformação, porque não se deve negar assistência psicológica a nenhum ser humano por falta de interesse do profissional e/ou da profissão, que devem se moldar diante das dificuldades e novidades que se apresentam, a fim de tornarem-se aptos a desenvolver uma psicologia para todos, sem distinção de classe e poder econômico, principalmente.
Como eu já devo ter exposto, o que eu acho é que se precisa construir novas formas de se fazer psicologia e novas teorias que possam auxiliar essa prática, mas de nenhuma maneira isso deve ser construído por profissionais que não tenham contato com as pessoas para quem essa psicologia vai servir, senão será uma construção equivocada da realidade. Mais que isso, acredito que não são os profissionais que construirão essa nova psicologia, mas que ela será construída juntamente com o povo que se utilizará das novas construções.
E como fazer isso longe do povo? Como fazer isso longe dos contextos mais necessitados? Como fazer isso dentro da Universidade com os professores e coleguinhas? Como fazer isso sem vivenciar o dia a dia do povo? Como fazer isso sem se sentir parte desse povo?
Não vejo alternativa que não seja mergulhar nesses contextos, viver e fazer deles sua rotina. Vivências que construirão a psicologia popular, criada com o povo, a fim de servir a esse mesmo povo que a construiu.
O que mais tem me intrigado é que se percebe que a psicologia poderia estar atuando nos mais diversificados contextos que, de alguma maneira, poderiam usufruir do apoio psicológico, mas o que acontece, ou melhor, o que eu vejo acontecer é que a psicologia como está hoje, mesmo tendo mudado, se transformado, se refeito nesses poucos mais de cem anos de existência ainda é muito elitista. E como se apresenta e vem sendo construída dentro das universidades ainda não é capaz de abarcar como público alvo as pessoas pobres, desassistidas pelo próprio Estado, por suas instituições, seus profissionais, suas políticas assistencialistas.
O que se apresenta claro pra mim é que é urgente a necessidade de transformação, porque não se deve negar assistência psicológica a nenhum ser humano por falta de interesse do profissional e/ou da profissão, que devem se moldar diante das dificuldades e novidades que se apresentam, a fim de tornarem-se aptos a desenvolver uma psicologia para todos, sem distinção de classe e poder econômico, principalmente.
Como eu já devo ter exposto, o que eu acho é que se precisa construir novas formas de se fazer psicologia e novas teorias que possam auxiliar essa prática, mas de nenhuma maneira isso deve ser construído por profissionais que não tenham contato com as pessoas para quem essa psicologia vai servir, senão será uma construção equivocada da realidade. Mais que isso, acredito que não são os profissionais que construirão essa nova psicologia, mas que ela será construída juntamente com o povo que se utilizará das novas construções.
E como fazer isso longe do povo? Como fazer isso longe dos contextos mais necessitados? Como fazer isso dentro da Universidade com os professores e coleguinhas? Como fazer isso sem vivenciar o dia a dia do povo? Como fazer isso sem se sentir parte desse povo?
Não vejo alternativa que não seja mergulhar nesses contextos, viver e fazer deles sua rotina. Vivências que construirão a psicologia popular, criada com o povo, a fim de servir a esse mesmo povo que a construiu.
sábado, 9 de julho de 2011
“TRIÂNGULO AMOROSO” de Caio Fernando: Variação sobre o título
Parecia estar impaciente com aquela dúvida. Não comia bem, não dormia bem, não jogava mais bola. Estava amando. Era demais pra ele admitir isso, mas chegou ao ponto de se tornar claramente inegável, precisava admitir, então.
Pensava ainda, mesmo que admitisse não se resolveria o problema. Eram dois os seus amores. Mas tinha aprendido que não se podia amar mais que um e precisava acabar com um dos amores de qualquer maneira, ou o destino era ficar sem amar. E isso, ele não suportaria. Mas sabia que também não suportaria amar uma só.
Que dor dúbia, a daquele menino. Ele sabia que poderia parar de se amar pra sobrar um pouco de amor, e assim, amar mais de uma. E o mundo poderia acabar, podia acabar enquanto ele amava incansavelmente aquelas duas. Mas isso não ia acontecer, e nem em seus sonhos mais bonitos ele chegou a ter tamanha esperança.
Obviamente, tinha que escolher.
Ele sentia que tinha uma, que quando lembrava, o ar faltava por 5 segundos a mais que a outra, mas isso não queria dizer que a amava mais. E mesmo que fosse isso, amar mais a uma, em nenhum momento, significa desmerecer o amor que tinha pela outra.
Mas precisava partir, e partir significava espaço só pra uma, espaço só pra uma significava excluir a outra, que significava chorar um pouco, que significava comoção aos outros, que significava promessas de um carro maior pra próxima estação, que poderia significar carregar dois amores, se assim acontecer de novo na próxima mudança.
O menino pensou que se o carro ainda fosse o Kadett 93 prata de porta malas enorme, suas duas ursinhas poderiam ir com ele, mas não era. E o não ser, era real. Ele escolheu a menor, aquela que fazia sua respiração parar por 5 segundos a mais que quando pensava em deixar a outra, e aquela que, para ele, ainda precisava crescer. Precisava dele pra poder crescer. Deixou a ursinha maior dentro de uma caixa na porta de sua ex casa. A mãe o tinha convencido de que alguém a acharia e cuidaria tão bem dela que o faria não se lembrar mais dele. Isso doeu no menino, ideia inconcebível, mas ele abraçava a ursinha menor e a tristeza parecia diminuir. Olhou uma última vez para aquela caixa de papelão que, temporariamente, acreditava ele, seria a casa de sua ursinha maior. Desceu a última lágrima, que o pelo macio da sua ursinha menor secou, e com isso fez doer por menos tempo.
Tadinho daquele menino que já sofria por amar demais. Já sofria por não poder amar o quanto quisesse e o quanto pudesse.
Há de se supor também que aquela ursinha maior teria um coração. Mas ninguém pensou nisso, porque ela era grande. E ser grande quer dizer, no mínimo, suportar o que não se conseguiria se fosse pequeno. Que mentira descarada. Mas é tarde pra pensar nisso, o menino partiu. A ursinha grande, mesmo que tivesse um coração, e que sofresse, e que chorasse, e que não entendesse porque foi abandonada, saberia viver de novo. Porque era grande, e isso parecia bastar pra todo mundo. Menos pra ela que não sabia como poderia usar o seu tamanho pra acalmar seu coração.
Pensava ainda, mesmo que admitisse não se resolveria o problema. Eram dois os seus amores. Mas tinha aprendido que não se podia amar mais que um e precisava acabar com um dos amores de qualquer maneira, ou o destino era ficar sem amar. E isso, ele não suportaria. Mas sabia que também não suportaria amar uma só.
Que dor dúbia, a daquele menino. Ele sabia que poderia parar de se amar pra sobrar um pouco de amor, e assim, amar mais de uma. E o mundo poderia acabar, podia acabar enquanto ele amava incansavelmente aquelas duas. Mas isso não ia acontecer, e nem em seus sonhos mais bonitos ele chegou a ter tamanha esperança.
Obviamente, tinha que escolher.
Ele sentia que tinha uma, que quando lembrava, o ar faltava por 5 segundos a mais que a outra, mas isso não queria dizer que a amava mais. E mesmo que fosse isso, amar mais a uma, em nenhum momento, significa desmerecer o amor que tinha pela outra.
Mas precisava partir, e partir significava espaço só pra uma, espaço só pra uma significava excluir a outra, que significava chorar um pouco, que significava comoção aos outros, que significava promessas de um carro maior pra próxima estação, que poderia significar carregar dois amores, se assim acontecer de novo na próxima mudança.
O menino pensou que se o carro ainda fosse o Kadett 93 prata de porta malas enorme, suas duas ursinhas poderiam ir com ele, mas não era. E o não ser, era real. Ele escolheu a menor, aquela que fazia sua respiração parar por 5 segundos a mais que quando pensava em deixar a outra, e aquela que, para ele, ainda precisava crescer. Precisava dele pra poder crescer. Deixou a ursinha maior dentro de uma caixa na porta de sua ex casa. A mãe o tinha convencido de que alguém a acharia e cuidaria tão bem dela que o faria não se lembrar mais dele. Isso doeu no menino, ideia inconcebível, mas ele abraçava a ursinha menor e a tristeza parecia diminuir. Olhou uma última vez para aquela caixa de papelão que, temporariamente, acreditava ele, seria a casa de sua ursinha maior. Desceu a última lágrima, que o pelo macio da sua ursinha menor secou, e com isso fez doer por menos tempo.
Tadinho daquele menino que já sofria por amar demais. Já sofria por não poder amar o quanto quisesse e o quanto pudesse.
Há de se supor também que aquela ursinha maior teria um coração. Mas ninguém pensou nisso, porque ela era grande. E ser grande quer dizer, no mínimo, suportar o que não se conseguiria se fosse pequeno. Que mentira descarada. Mas é tarde pra pensar nisso, o menino partiu. A ursinha grande, mesmo que tivesse um coração, e que sofresse, e que chorasse, e que não entendesse porque foi abandonada, saberia viver de novo. Porque era grande, e isso parecia bastar pra todo mundo. Menos pra ela que não sabia como poderia usar o seu tamanho pra acalmar seu coração.
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